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Arquivo

2024

MERCADORES

Utilizando fontes literárias, grafites, epitáfios e outras inscrições, The Reputation of the Roman Merchant, de Jane Sancinito (University of Michigan Press, 2024, 272 páginas, capa dura, 75 dólares) explora as origens da reputação ruim dos comerciantes, artesãos e prestadores de serviços romanos, bem como o que essas pessoas tinham a dizer sobre si mesmas. A autora se concentra nas estratégias que varejistas, artesãos e outros trabalhadores utilizavam para obter sucesso, examinando como eles desenvolveram boas reputações apesar do estigma associado ao seu trabalho. Para a autora, a reputação funcionava como uma instituição informal, estabelecendo e reforçando normas romanas tradicionais enquanto reduzia o custo de fazer negócios para trabalhadores individuais. Assim, o pesado investimento que comerciantes faziam em sua própria reputação era uma forma de se diferenciarem de estereótipos negativos comuns, sem admitir que havia algo vergonhoso no trabalho que realizavam.

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HOMOSSEXUALIDADE FEMININA

Homossexualidade feminina na Antiguidade grega e romana (Trad. Iraci Poleti. São Paulo, Unifesp, 2022, 476 páginas, 160 reais) é a tradução em português da tese de Sandra Boehringer, originalmente escrita em francês, em 2007. A obra é uma investigação histórica sobre as relações amorosas e sexuais praticadas entre mulheres na Antiguidade greco-romana, em um período que vai do século IX a.C. ao II d.C. Além de extensa e rigorosa análise da documentação literária, por meio da qual demonstrou a historicidade de práticas e conceitos atribuídos a relações sexuais femininas, Boehringer também explorou figurações amorosas em suportes materiais, como utensílios em cerâmica e metal. Com seus métodos para driblar os diversos silêncios documentais sobre relações sexuais e amorosas entre mulheres, Boehringer instiga tanto a discussão sobre categorizações das práticas sexuais, quanto a ampliar o enfoque de análise, abarcando outros períodos e grupos sociais mais amplos. 

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CIDADÃS ROMANAS

Cives Romanae: Roman Women as Citizens during the Republic (Prensas de La Universidad de Zaragoza, 2024, 510 páginas, 34,62 euros e acesso livre), editado por Cristina Rosillo-López e Silvia Lacorte, é uma coletânea de estudos dedicada ao papel público e ao lugar das mulheres nas comunidades romanas durante a República, desde as integrantes das elites até as mulheres subalternas. Contra estudos que relegam as mulheres romanas à categoria de cidadãs-secundárias ou, então, que negam completamente a elas o título de cidadãs, a coletânea parte de uma definição nuançada da cidadania romana, identificando diversos aspectos da participação pública dessas mulheres e sublinhando a pertinência de enfatizarmos alguns deles. A partir da contribuição de diferentes autoras e autores, trabalhando com fontes diversas, os estudos que compõe a coletânea são divididos em três partes: a primeira trata das relações entre as mulheres e a cidadania, a segunda, de sua agência ou protagonismo político e a terceira, de suas relações com as comunidades romanas, seus espaços e memórias.

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DESIGUALDADE ROMANA

Partindo da ficção jurídica romana (fictio), ou seja, a junção entre teoria jurídica e a factualidade comercial, Roman inequality: affluent slaves, businesswomen, legal fictions (Oxford University Press, 2023, 280 páginas, US$83), de Edward E. Cohen, explora as desigualdades sociais e jurídicas que limitavam as ações de escravizados e libertos, bem como a inegável importância do trabalho dessas pessoas para a economia romana. Para o autor, as contradições e limitações nos textos jurídicos indicam o reconhecimento dessa importância e uma tentativa de manutenção da situação. Ao longo dos cinco capítulos do livro, o autor argumenta que, embora as condições de desigualdade fossem brutais com aqueles que estavam “abaixo” na hierarquia social, escravizados, libertos e, principalmente, mulheres, tanto livres quanto escravizadas, conseguiam criar estratégias de negócios e utilizar brechas na legislação para aprimorar suas condições econômicas.

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SUBORDINADOS

Voiceless, Invisible, and Countless in Ancient Greece: The Experience of Subordinates, 700―300 BCE (Oxford University Press, 2024, 320 páginas, $115), organizado por Samuel Gartland e David Tandy, é um estudo sobre subordinados e subordinadores na Grécia Antiga. Embora os capítulos foquem em subordinados nomeados, os autores argumentam como a precariedade de um único indivíduo pode ser expandida para sua classe ou grupo social. Assim, para os autores, realizar uma análise que não considere as interpretações e experiências dos subordinados é, simplesmente, reafirmar a condição silenciosa e invísivel que essas pessoas experimentaram em vida. Abarcando um amplo arco temporal, e diferentes tipos de fontes, os capítulos buscam enfatizar e compreender a precariedade que afetam os grupos sujeitos a subordinação, bem como os processos que criaram essa subordinação, os esforços para mantê-la e combatê-la, de forma a encontrar as intersecções entre a alta política e as diferentes experiências dos diferentes grupos subordinados.

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CULTURA POPULAR

Em Popular Culture and the End of Antiquity in Southern Gaul, c. 400–550 (Cambridge: Cambridge University Press, 2024, capa dura, 110 dólares, 260 páginas), Lucy Grig investiga as transformações da cultura popular e seus entrelaçamentos com mudanças social, econômica e religiosa no sul da Gália durante a Antiguidade Tardia. Com foco na diversidade e agência de grupos sociais que compunham o universo cultural de Arles e seu território eclesiástico, ela estuda artesãos, camponeses, pastores e outros grupos presentes em igrejas, rituais e festivais de vários tipos. Grig faz isso a partir de fontes literárias, sobretudo sermões de Cesário de Arles, e materiais, como relatórios arqueológicos recentes. Assim, Grig explora a interação de forças divergentes, de cima para baixo e de baixo para cima, que atuavam em um contexto de amplas transformações entre os anos 400 e 550.

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ESCRAVIDÃO ROMANA

The Position of Roman Slaves: Social Realities and Legal Differences (310 páginas, 2023, acesso aberto), organizado por Martin Schermaier, busca analisar, por meio da teoria da história social, as leis acerca da escravidão em Roma. Esmiuçando os termos jurídicos que compõem essas leis, e trazendo diferentes propostas de tradução para esses termos, os autores buscam compreender a posição social e jurídica dos escravos, bem como o motivo pelo qual as leis sobre escravidão foram compostas de forma a cobrir diversas modalidades de escravidão. Para os autores, essas leis demonstram não apenas as múltiplas posições sociais ocupadas pelos escravizados, mas, também, que não havia uma única visão homogênea sobre a escravidão na sociedade romana. Por fim, o livro também inclui um índice detalhado de todas as fontes utilizadas, o que facilita a consulta para interessados no tema.

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CULTURAS DE RESISTÊNCIA

Cultures of Resistance in the Hellenistic East (Oxford University Press, 2022, capa dura, 105 dólares, 305 páginas), organizado por Paul J. Kosmin e Ian S. Moyer, busca compreender as revoltas no Oriente Helenístico por meio de uma perspectiva multi regional e comparativa. Utilizando fontes epigráficas, literárias e arqueológicas, os autores buscam explorar as os papéis de tradições culturais locais contra uma cultura helenizada “global”, construída a partir de conjunturas e disjunturas culturais sobrepostas nos diferentes locais. Assim, por meio de uma abordagem de baixo para cima, as identidades locais, ordens morais e o próprio cosmopolitismo helenístico são mobilizados por atores locais de acordo com seus interesses, de forma que a manutenção desses reinos depende de uma negociação constante entre a população comuns, as elites locais e os reis helenísticos.

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ESCRAVIDÃO E REVOLTA

Slavery and Rebellion in Second-Century BC Sicily: From Bellum Servile to Sicilia Capta, de Peter Morton (Edinburgh University Press, 2024, 248 páginas, 125 dólares), é um estudo sobre as duas Guerras Servis do século II AEC. Utilizando fontes literárias e evidências materiais, o autor busca reexaminar as revoltas do ponto de vista dos próprios rebeldes e argumenta que essas ocorrências devem ser entendidas não como revoltas de escravizados, mas como rebeliões desencadeadas pelas dificuldades socioeconômicas e políticas causadas pelo status quo apoiado pelos romanos na Sicília. Por meio de paralelos com revoltas de escravizados nos Estados Unidos, Brasil e Caribe, o autor defende que analisar essas revoltas do ponto de vista dos próprios rebeldes permite uma visão mais ampla de fatores sociais e econômicos e, portanto, servem como um meio para ampliar nossa compreensão acerca de revoltas de escravizados.

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CRISTÃOS ESCRAVIZADOS

Em God's Ghostwriters: Enslaved Christians and the Making of the Bible (Little, Brown and Company, 2024, 336 páginas, 30 dólares), Candida Moss discute a importância de escravizados para a escrita da Bíblia, bem como para a propagação dos evangelhos. Utilizando o Novo Testamento, bem como os Atos, cartas e textos apócrifos, a autora argumenta como os primeiros seguidores de Jesus não eram pessoas letradas e necessitavam dos serviços de escribas para seus escritos. Por meio da análise onomástica desses escribas, a autora consegue situá-los como escravizados ou libertos, e, assim, argumenta que certas ideias, como a condenação de escravizadores ao inferno, apresentam as vozes dessas pessoas nos textos bíblicos. Além disso, essas pessoas também eram fundamentais para a leitura e divulgação dos evangelhos para grupos de cristãos iletrados e recém convertidos, já que eram “os rostos” dos evangelhos para esses públicos.

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SENHORES DE ESCRAVOS

Em Senhores de Escravos, senhores da razão: racionalidade e ideologia na escravidão rural Romana, séculos II e I a.C. (2024, Essentia Editora, 129 páginas, acesso livre), José Ernesto Moura Knust analisa as preocupações e motivações concretas dos senhores de escravos da Roma Antiga que subjazem as maneiras como pensavam sobre as formas de controle e de supervisão dos trabalhadores rurais escravizados. Knust desenvolve sua análise, sobretudo, a partir das obras De Agri Cultura e De Re Rustica, dos autores romanos Catão e Varrão. Aplicando o conceito de Racionalidade Ideológica, o autor rastreia as relações sociais, as formas de apropriação do solo e de exploração do trabalho que marcam as grandes propriedades rurais romanas, as uillae, para analisar as preocupações básicas desses autores. A obra nos auxilia, dessa maneira, a compreendermos melhor o lugar social e as estruturas econômicas e ideológicas que fundamentam algumas das ideias sobre a escravidão romana nas fontes literárias que temos acesso.

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IMIGRANTES FENÍCIOS

Phoenicians among others: why migrants mattered in the ancient Mediterranean (Oxford University Press, 2023, 204 páginas, US$45), de Denise Demetriou, é um estudo sobre imigrantes fenícios em territórios gregos. Utilizando fontes epigráficas, a autora analiza como indíviduos tornavam-se partes da comunidade,  por meio de alterações em seus nomes ou pela incorporação de aspectos culturais. As associações profissionais também são analisadas e a autora destaca como estas cumpriam uma função dupla: facilitar a integração no novo local, e manter uma relação com o local de origem. Para a autora, os mecanismos de controle e as honrarias que podiam ser obtidas por imigrantes estabelecem uma relação de ganho mútuo entre a cidade de origem e o novo local, tanto em termos ecônomicos quanto de reputação da cidade. Assim, esses trabalhadores imigrantes são fundamentais para o estabelecimento de relações amigáveis de longa duração.

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FEMINISMO

Public feminism in times of crisis: from Sappho's fragments to viral hashtags (Lexington Books, 2022, 296 páginas, $110), de Leila Easa e Jennifer Stager, é um estudo feminista sobre a tradução e a recepção de trabalhos feitos por mulheres da Antiguidade. Problematizando o conceito de “feminismo público”, as autoras discutem como estruturas patriarcais criam narrativas em torno do corpo e das representações de mulheres. Para as autoras, os recursos disponíveis e as condições materiais influenciaram na produção dessas obras já na Antiguidade, e continuam impactando sua tradução e recepção no presente. Assim, as autoras discutem como traduções recentes, feitas por mulheres, colocam em xeque a suposta “neutralidade, objetividade e invisibilidade” dos tradutores, sobretudo nas traduções dos fragmentos de Safo. Por fim, as autoras argumentam que uma abordagem feminista e interdisplinar é uma ferramenta poderosa tanto para compreender as mulheres na Antiguidade quanto para dar apoio às pesquisadoras modernas.

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MULHERES ESCRITORAS

Ancient women writers of Greece and Rome (London, New York: Routledge, 2022, capa mole, 48,99 dólares, 408 páginas), organizado por Bartolo Natoli, Angela Pitts e Judith Hallett, é uma coletânea bilíngue (com tradução para o inglês) de textos escritos por mulheres durante a Antiguidade, produzidos entre, mais ou menos, o século VII a.C. e o II d.C. O volume apresenta uma variedade de formas literárias que cobre desde poetisas, que escreveram tanto em grego (como Safo e Nóssis) quanto latim (como Sulpícia e Sulpícia Caleni), até cartas em tabuinhas de madeira, grafites parietais e inscrições monumentais. As autoras são introduzidas com breves notas biográficas e as traduções contam com excelente aparato crítico. É uma ótima seleção documental que permite estudantes analisarem relações de gênero, instrução e diversidade de práticas de escrita realizadas por mulheres em diferentes contextos sociais.

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IMIGRANTES

Em Romam Commigrare: i romani, i latini e l'immigrazione (Giuffré, 2023, 36 euros, 279 páginas), Lorenzo Gagliardi revisa interpretações consensuais sobre as relações entre a Roma monárquica e republicana e os imigrantes. A partir de uma revisão das fontes antigas, sobretudo, daquelas referentes aos exílios instituídos por magistrados romanos a latinos em 187 e 177 a.C., Gagliardi reconstrói uma série de tensões entre os imigrantes e as instituições romanas. O autor sublinha que a abertura de Roma ao acolhimento, bem como a oferta de residência aos imigrantes não correspondeu a uma abertura semelhante na concessão da cidadania romana, sobre a qual se manteve bastante fechada. A obra de Gagliardi contribui, assim, para compreendermos uma diversidade de fatores de discriminação dos imigrantes na Roma monárquica e republicana, bem como as lutas por direitos e reconhecimento por eles travadas.

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GRAFITES OBSCENOS

Oltre Pompei. Graffiti e altre iscrizioni oscene dall’Impero Romano d’Occidente (Deinotera Editrice, 2021, capa mole, 16 euros, 150 páginas), organizado por Stefano Rocchi e Roberta Marchionni, é um catálogo composto por 23 inscrições epigráficas, majoritariamente grafites, caracterizadas pelo uso de palavras vulgares e obscenas, típicas do latim falado. Por meio de uma análise linguística e do contexto de produção das fontes, os autores buscam compreender como pessoas comuns, os prováveis autores dessas fontes, utilizavam essa linguagem de forma cômica, satírica e mesmo de protesto. Embora seja um catálogo curto, os autores oferecem ferramentas para o estudo do latim vulgar, bem como um ponto de partida para o estudo desse tipo de inscrições em outras regiões que não as cidades do Vesúvio, onde esse tipo de fonte é abundante.

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2023

PALMIRA

Em Carvers and Customers in Roman Palmyra: The Production Economy of Limestone Loculus Reliefs (Turnhout: Brepols, 2022, 292 páginas, 105 euros, capa dura), Julia Steding investiga o processo produtivo de relevos mortuários de Palmira, entre os anos 50 e 273 de nossa era. Com uma análise de aproximadamente 1900 exemplares feitos em calcário, Steding procura demonstrar as minúcias do ofício dos artesãos encarregados dessa produção. Assim, indaga os modos como as propriedades da matéria-prima atuam nas formações das habilidades artesanais, além de explorar as formas de organização das oficinas e as transmissões dos saberes construídos nesses espaços de trabalho. Por fim, Steding ainda aponta como a fabricação dos relevos estava conectada com as demandas dos consumidores e de seus gostos estilísticos, que, no espaço mortuário específico de exposição, criavam representações peculiares dos mortos, combinando elementos gerais (mediterrâneos) e particulares (palmirenos) dos repertórios de figuração existentes.

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MATERNIDADE E ORFANDADE

Missing Mothers: Maternal Absence in Antiquity (Peeters, 2021, 347 páginas, 75 dólares), organizado por Sabine R. Huebner e David M. Ratzan, é um estudo sobre a construção social acerca da maternidade e as consequências da ausência da mãe na vida familiar, sobretudo das crianças. Utilizando diversas fontes, como epigrafia, evidências bioarqueológicas e literárias, os autores exploram como a morte da mãe durante o parto impactava a vida familiar e os riscos aos quais essas crianças orfãs estavam expostas. Analisando contratos de venda de escravos, por exemplo, é possível observar que crianças orfãs de mãe estavam mais suscetiveis a esse destino - fosse por serem sequestradas ou abandonadas. Por fim, o livro também aborda como a ausência da maternidade é representada na iconografia e nas fontes literárias, destacando os diferentes valores atribuídos a ela nas sociedades grega e romana.

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DESIGUALDADE SOCIAL

Desigualdade social na Antiguidade: agenciamentos e linhas de fuga (Pedro e João Editores, 2023, 301 páginas), organizado por Filipe N. Silva, Pedro Paulo Funari e Sofia Rodrigues, reúne capítulos em torno de questões que envolvem tanto assimetrias nas relações sociais na Antiguidade Mediterrânea e em pesquisas que se debruçaram sobre essas sociedades, quanto as possibilidades de ação de atores que vivenciaram aqueles contextos. Tais questões foram exploradas com uso variado de fontes, tais como literárias, materiais e epigráficas. Relações étnicas, de gênero, trabalho, religiosas, sociais e de usos do passado foram abordadas em sociedades diversas, entre os séculos VIII a.C. até o V d.C. (ou XX). Com problematizações advindas do tempo presente e munidos com abordagens teóricas renovadas, os autores demonstram como temas relativos a diferentes tipos de desigualdade podem ser prolíficos aos estudos da Antiguidade.

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ESCRAVIDÃO

Greek and Roman Slaveries (Blackwell, 2022, 400 páginas, $50.95), organizado por Eftychia Bathrellou e Kostas Vlassopoulos, é uma coletânea de fontes sobre a escravidão no mundo greco-romano. Separado por temas, o livro parte de fontes epigráficas e da cultura material para abordar o que gregos e romanos entendiam por escravidão, os diferentes aspectos ecônomicos e sociais envolvidos nessa condição, bem como o ponto de vista dos próprios escravizados, suas relações, comunidades e estratégias de sobrevivência. Cada capítulo oferece uma breve introdução sobre o tema, apresentando, na sequências, as fontes selecionadas para cada assunto e questionamentos sobre cada uma dessas fontes. Embora não se trate de uma análise da escravidão em si, o livro oferece um excelente ponto de partida para estudantes e pesquisadores interessados em diferentes perspectivas da escravidão antiga.

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ANTIGUIDADE E SUBALTERNIDADE

Em Agência, conflitos e subalternidade na Antiguidade (FFLCH, 2023, e-book gratuito neste link), organizado por Juliana Marques Morais, Pedro Benedetti e Rafael Monpean, aspectos da agência popular e subalternidade são explorados em doze capítulos, resultantes da I Jornada do GSPPA de Pesquisas em Andamento na Pós-Graduação, realizada em 2022. Com um amplo arco temporal, do século VII a.C. ao século VII d.C, e variedade geográfica, do Norte da África à Gália da Antiguidade Tardia, os autores utilizam diversos tipos de fontes, tanto escritas quanto materiais, para compreender diferentes formas de conflitos políticos e construção de memória, religiosidades populares, relações de gênero e estratégias subalternas para a solução de problemas e conflitos. Por fim, o livro também apresenta um prefácio e um posfácio para contextualizar os estudos subalternos no Brasil e as perspectivas futuras.

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MULHERES

O Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade (Tempestiva, ebook, R$14,99), organizado por Semíramos Corsi Silva, Rafael Brunhara e Ivan Vieira Neto, traz 147 verbetes que buscam apresentar, de maneira crítica, fontes sobre a vida e atuação de mulheres na Antiguidade. Apresentando um quadro referencial básico para o estudo, as fontes antigas são revisitas sob a ótica dos estudos de gênero, com discussões sobre a própria construção dessas narrativas acerca dessas mulheres, contestando, em alguns casos, visões preestabelecidas sobre a atuação das mulheres nas sociedades antigas. Por meio de uma grande abrangência geográfica e temporal, o livro discute as diferentes esferas de atuação dessas mulheres, suas formas de sociabilidade e, também, como exerciam diferentes formas de poder e o impacto disso em suas sociedades, bem como na forma como suas ações foram narradas.

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POBREZA NA GRÉCIA E EM ROMA

Poverty in Ancient Greece and Rome: Realities and Discourses (Londres: Routledge, 2022, 316 páginas, capa dura, 170 dólares), organizado por Fillipo Carlà-Uhink, Lucia Cecchet e Carlos Machado, é uma coletânea que reúne trabalhos que abordam a pobreza na Antiguidade. Com capítulos que analisam os mundos gregos clássico e helenístico, a Roma republicana e imperial, além do Mediterrâneo na Antiguidade Tardia, os organizadores demonstram a ubiquidade do fenômeno nas sociedades antigas e as muitas dimensões que poderia assumir em períodos históricos precisos. Definições (modernas e antigas, econômicas, sociais e simbólicas) de pobre/pobreza, mobilidade social e processos de empobrecimento, questões de destituição e fome, formas de controle sobre os e modos de ação dos pobres são alguns dos temas discutidos pelos autores. Em conjunto, o livro demonstra como pobres e a pobreza estavam longe de ser fenômenos invisíveis e estáticos na Antiguidade.

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POBREZA EM ATENAS

Realidades e imágenes de la pobreza en la Atenas clásica (Peter Lang, 2022, 522 páginas, US$101,95), de Aida Fernández Prieto, parte de uma definição ampla de pobreza, que engloba não apenas aspectos econômicos, mas sociais e culturais, para compreender a pobreza na Atenas Clássica em suas várias facetas. Por meio de fontes literárias e jurídicas, a autora busca uma aproximação à concepção ateniense de pobreza e à terminologia utilizada nas fontes. Assim, a autora explora a situação socioeconômica e jurídica dos cidadãos e não cidadãos pobres, bem como as estratégias e recursos de que essas pessoas dispõem para lidar com sua situação, em quais espaços físicos e simbólicos o fenômeno da pobreza se manifesta e, por fim, a forma como os pobres e indigentes são representados e os usos dessas imagens na literatura ateniense.

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MANIQUEUS

Em Religion and the everyday life of Manichaeans in Kellis: beyond light and darkness (Leiden, Brill, 2022, acesso livre), Mattias Brand analisa a construção da identidade coletiva da comunidade maniqueísta de Kellis (Ismant el-Kharab, Egito). Por meio de documentação papirológica, sobretudo cartas, e evidências arqueológicas, como práticas funerárias, o autor analisa como as práticas religiosas maniqueístas são integradas em diversos aspectos da vida social dessa comunidade, mas não resultam, diretamente, em perseguições das comunidades cristãs com as quais interage. O autor também observa como essas práticas não são referidas exclusivamente como religiosas, mas como constituintes do cotidiano, além de possuírem aspectos econômicos e solidários. Dessa forma, o pertencimento religioso serve como meio de mediar tensões sociais, mas também cria redes de solidariedade e pertencimento a comunidade.

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JESUS

Jesus, a Life in Class Conflict (Winchester e Washington, Zero Books, 2023, 281 páginas, Capa dura, 25,95 dólares [eBook, 20,99 dólares]), de James Crossley e Robert J. Myles, aborda a vida e o contexto histórico de Jesus a partir de uma abordagem materialista. Os autores situam a vida e o movimento religioso de Jesus nos conflitos sociais, econômicos e culturais da Palestina do século I, tratando de questões sobre como, por exemplo, as ideias desse líder religioso representava os valores de trabalhadores rurais comuns de sua época. O livro se torna, assim, uma investigação a respeito do Jesus histórico e, também, da Palestina antiga a partir de baixo. 

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POESIA POPULAR GREGA

La poesía popular griega: estudio y texto (Roma: Fabrizio Serra, 2022, 312 páginas, 84 euros), de Francisca Pordomingo, reúne em uma edição crítica os 48 textos que compõem o corpo documental da poesia popular grega. A autora discute a natureza desses documentos e suas particularidades, como a oralidade, o anonimato dos autores, sua transmissão e os desafios resultantes da transcrição desses textos para a forma escrita. Os textos são divididos em categorias, como hinos religiosos e canções de casamento, amor e trabalho, por exemplo. São apresentados no original grego, em tradução crítica (para o espanhol) e acompanhados por um comentário sobre sua constituição, métrica, termos próprios. De modo geral, a autora busca demonstrar como esses textos eram utilizados em diferentes momentos e como certos aspectos deles permanecem até os dias atuais.

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ESCRAVOS PÚBLICOS 

Slaves of the People: A Political and Social History of Roman Public Slavery (Franz Steiner Verlag, 2022, 489 páginas, 80 euros) é uma monografia de Franco Luciani sobre os usos dos escravos públicos, o desenvolvimento e a consolidação dessa forma de escravidão desde a República Romana até a Antiguidade Tardia. Por meio de uma abordagem holística, o autor abarca a definição e as especificidades da escravidão pública, a transformação do status legal dos escravos públicos, os papéis desses escravos nas comunidades e suas relações com as autoridades, a manumissão e os libertos públicos. Por meio de um corpus amplo de fontes epigráficas, literárias, arqueológicas e iconográficas, catalogadas em apêndices na obra, o autor também aborda essas questões em Roma e outras cidades romanas do Ocidente, observando como as funções atribuídas a esses escravos podiam variar de local em local.

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MULHERES EGÍPCIAS

Women in Ancient Egypt: Revisiting Power, Agency, and Autonomy (Cairo, The American University in Cairo Press, 2022, 522 páginas, 95 dólares, capa dura), organizada por Mariam Ayad, é uma coletânea que reúne vários capítulos sobre a história das mulheres no Egito Antigo, dentro de um amplo arco cronológico, que vai do III milênio a.C. até o século IV de nossa era. Por meio de farta documentação, que reúne de hieróglifos até papiros, passando por diversos artefatos materiais e inscrições, são investigados aspectos religiosos, socioeconômicos e, sobretudo, de dinâmicas de poder e capacidade de ação de mulheres provenientes de estratos sociais variados. Mulheres de famílias reais ou pertencentes à elite dividem espaços ao longo do livro com sacerdotisas, musicistas, sapateiras, em suma, pessoas ativas em “comunidades de trabalhadoras/es” de diversas localidades abordadas ao longo do livro.

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DESIGUALDADES ANTIGAS

Desigualdades Antiguas: economía, cultura y sociedad en el Oriente Medio y el Mediterráneo (Miño y Dávila Editores, 2023, 403 páginas, 182 reais), organizado por Marcelo Campagno, Julián Gallego, Carlos García Mac Gaw e Richard Payne, busca reconsiderar a questão da desigualdade social na Antiguidade a partir das relações entre poder econômico e identidades políticas e culturais. Cobrindo um amplo arco temporal e geográfico, bem como utilizando diversos tipos de fontes, os diferentes autores buscam argumentar como ordenamentos políticos geravam hierarquizações sociais e como os regimes de desigualdade antigos dependiam tanto de particularidades culturais quanto da exploração econômica. Contrariando uma historiografia tradicional, também demonstram como havia uma instabilidade das categorias de desigualdade e como as “classes baixas” criavam e se mobilizavam em torno de sua própria “economia moral”, sobretudo em tempos de crises.

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LATIM POPULAR

Orthographic Traditions and the Sub-elite in the Roman Empire (Cambridge University Press, 2023, 314 páginas, 34,73 euros), de Nicholas Zair, é uma análise sociolinguística do latim das “não-elites”. Utilizando, principalmente, tabletes provenientes de fortes militares, bem como ostraca, grafites e tabuletas de maldição, Zair observa o uso de uma escrita “antiquada” para compreender o desenvolvimento da ortografia do latim em seus usos cotidianos. Para o autor, o uso de uma ortografia “alternativa” pode ser um indicador do grupo social do autor de um texto e da forma como ocorreu seu aprendizado de latim e, dessa forma, permite ampliar o conhecimento sobre a produção da fonte escrita. Por fim, o livro também inclui extensos comentários sobre a ortografia dessas fontes, bem como comparações com o latim formal, e oferece um bom ponto de partida para pesquisadores do latim popular.

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TRABALHO URBANO

Em Work and Labour in the Cities of Roman Italy (Liverpool University Press, 2023, 368 páginas), Miriam J. Groen-Vallinga busca contextualizar o mundo do trabalho nas cidades da Itália romana. A autora parte de uma explanação sobre as estruturas sociais, culturais, econômicas e jurídicas para, então, passar a uma análise detalhada do trabalho dentro das cidades, as estruturas familiares que envolviam pequenos negócios, bem como as estruturas não-familiares, como as associações de trabalhadores. Para a autora, a economia familiar e o lar são pontos fundamentais da análise, e o trabalho é entendido como um elemento essencial para o funcionamento dessas relações. Por fim, o livro inclui um extenso catálogo dos diferentes tipos de trabalho encontrados na documentação epigráfica, e uma tabela com as referências de contratos de aprendizagem.

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PRÁTICAS ARTESANAIS

The Value of Making: Theory and Practice in Ancient Craft Production (Brepols, 2021, capa comum, 90 euros, 254 páginas), organizado por Helle Hochscheid e Ben Russell, parte de uma perspectiva antropológica para compreender a importância sócio-cultural do “fazer” na Antiguidade. Utilizando fontes arqueológicas e adotando o ponto de vista dos próprios artesãos, o livro busca explorar os espaços coletivos e individuas de produção, as identidades coletivas desses trabalhadores, suas relações de trabalho, familiares e de aprendizagem e transmissão de conhecimentos, além de seus conhecimentos para captação de materiais e a valoração dos objetos produzidos bem como o tempo e esforço que eram dedicados ao trabalho. Ao final, o livro apresenta uma reflexão sobre o “fazer” no mundo contemporâneo e sobre as práticas artesanais como meio educacional e terapêutico no presente.

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SOLDADOS

Em Voluntas Militium: Community, Collective Action, and Popular Power in the Armies of the Middle Republic (300-100 BCE) (Sevilha: Editorial Universidad de Sevilla, 2023, 346 páginas, 28 euros), Dominic M. Machado aborda o exército romano do final da república (300 – 100 a.C.) a partir de baixo, discutindo a agência dos soldados. Machado se distancia de uma historiografia preocupada com os aspectos normativos desse exército, sua organização, estrutura hierárquica, ideologia, etc., colocando em perspectiva os interesses, as preocupações e as experiências de seus soldados. Investigando as comunidades constituídas pelos soldados entre si, bem como suas ligações com não-militares, viajantes e habitantes diversos das regiões onde acampavam, Machado argumenta que os soldados não constituíam meras engrenagens no exército romano, mas unidades sociais dinâmicas e diversas que desempenharam seu papel nas transformações do Mediterrâneo antigo.

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BIOARQUEOLOGIA E MARGINALIZAÇÃO

Em Marginalised Populations in the Ancient Greek World: The Bioarchaeology of the Other (Edinburgo: Edinburgh University Press, 2022, 307 páginas, 90,00 libras), Carrie Weaver realiza estudo pioneiro sobre as condições de marginalização no mundo grego antigo a partir de uma abordagem extensiva de evidências biológicas humanas provenientes de contextos mortuários. Seu objetivo foi reconstruir experiências de grupos marginalizados que viveram entre os séculos VI-IV antes de nossa era, em casos situados desde a Frígia até a Magna Grécia. Para tanto, Weaver abordou três marcadores identitários para compreender os modos de exclusão: deficiências físicas, posições/status socioeconômicos e ancestralidade/etnicidade. Embora essas categorias identitárias tenham sido analisadas de modos e em capítulos distintos, Weaver defende a importância da interseccionalidade nesse processo de exclusão. Pois, conforme conclui, grupos e indivíduos marginalizados seriam detentores de ao menos duas dessas demarcações excludentes.

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SUJEIRA E MARGINALIZAÇÃO

Em Dirt and denigration: stigma and marginalisation in Ancient Rome (Tübingen: Mohr Siebeck, 2022. p. 250, 99 €), Jack Lennon explora como categorias de sujeira, poluição e contaminação estiveram associadas em processos de exclusão e estigmatização social, econômica, política e ritual em Roma e na Itália romana, entre os séculos II a.C. e II d.C. Lennon explora processos de marginalizações por meio de atribuições de impurezas às práticas exercidas por cafetões, prostitutas, atores, gladiadores e coveiros, assim como de estrangeiros e escravizados. Lennon também procura demonstrar como seriam disseminados e perpetuados por todos os níveis sociais os estigmas de sujeira, além de traçar o papel que essas noções assumiam na manutenção ou enfraquecimento das hierarquias sociais e políticas.  Ressalve-se o verbo “denegrir” em conotação negativa, que demonstra como os argumentos de Lennon em favor de ambiguidades e persistências sobre estigma, sujeira e exclusão são, paradoxalmente, verdadeiros.

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MARX

La influencia de Marx y el marxismo en los estudios sobre la Antigüedad (Buenos Aires, Miño y Dávila Editores, 2021, €14), editado por Christian Núñez López e César Sierra Martín, realiza um balanço das contribuições do marxismo nos estudos sobre a Antiguidade, além de apontar novas possibilidades para esses estudos. Partindo de diferentes pesquisadores e trabalhos tidos como clássicos, os autores retomam conceitos importantes do marxismo, como “dominação” e “luta de classes”, para analisar temas como escravidão, conflitos políticos e sociais na pólis ateniense, a recepção da Antiguidade, e a construção e a apropriação do passado romano por grupos de extrema-direita. De modo geral, o livro enfatiza a imensa produção historiográfica marxista e sua importância os estudos sobre grupos subalternizados na Antiguidade, integrando-os com debates do presente.

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VINHO

Roman and Late Antique wine production in the Eastern Mediterranean (Londres, Archaeopress, 2020, 222 páginas, Capa dura, 36 euros [eBook, 16 euros]), de Emlyn Dodd, aborda as técnicas e os processos de produção de vinho em três sítios arqueológicos do Mediterrâneo Oriental: Antioquia e Cragum na Turquia e Dellos na Grécia. Apresentando uma análise detalhada sobre o tema, o estudo ilumina muitas lacunas sobre as dinâmicas agrícolas no período, construindo algumas bases para futuras abordagens, por exemplo, sobre as experiências dos trabalhadores envolvidos nelas.

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ASSOCIAÇÕES

Em Group survival in ancient Mediterranean: rethinking material conditions in the landscape of Jews and Christians (Bloomsbury Academic, 2020, 230 páginas, 115 dólares), Richard Last e Philip Harland investigam as condições materiais das associações não oficiais e voluntárias, constituídas por cerca de dez a quinze pessoas em torno da devoção a divindades greco-romanas e israelita no Mediterrâneo Antigo. A partir de evidências epigráficas, papirológicas e literárias e da comparação entre distintas associações do Oriente Romano do século III, os autores interrogam como elas conseguiram ou não sobreviver como grupos. Eles exploram a formação dessas associações, as interações e as diferenças sociais entre seus membros e entre grupos distintos, os mecanismos materiais que asseguravam sua coesão, as maneiras como seus membros administravam seus recursos comunitários, entre outras questões.

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ARQUEOLOGIA E TRABALHADORES

Why Those Who Shovel Are Silent: A History of Local Archaeological Knowledge and Labor (Louisville, Colorado: University Press of Colorado, 2021, 218 páginas, capa mole, 26,95 dólares), de Allison Mickel, é uma nova abordagem sobre a arqueologia do Oriente Próximo. Por meio de entrevistas e fotografias, a autora aborda como os trabalhadores locais, responsáveis pelo trabalho braçal, se relacionam com os arqueólogos, com os sítios, a importância da comunidade local nas escavações e os conhecimentos dos próprios trabalhadores. Diferenças na contratação e integração desses trabalhadores resultam em experiências variadas, como a desconfiança sobre arqueólogos estrangeiros, a recusa em compartilhar saberes, a sensação de desconhecimento sobre o que estão escavando ou uma interpretação contrária a dos arqueólogos, baseada nas tradições da comunidade. De modo geral, o livro oferece uma visão diferenciada sobre a arqueologia e demonstra a importância de integrar as comunidades locais às escavações.

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XENOFOBIA E RACISMO

Xenofobía y racismo en el Mundo Antiguo (Barcelona: Edicions de la Universitat de Barcelona, 2019, 266 páginas, 30 euros), organizado por Francisco Marco Símon, Francisco Pina Polo e José Remesal Rodríguez, aborda questões sobre a xenofobia e o racismo na Antiguidade. Embora reconheçam que estes não são conceitos antigos, por meio da análise de textos históricos, filosóficos, discursos e pela epigrafia, os autores argumentam ser possível encontrar práticas xenófobas e racistas nestas fontes, tanto na construção da alteridade quanto nas práticas às quais essa alteridade era submetida. Fatores como língua, etnia e religião são mobilizados para justificar a dominação e ridicularização de certas populações dentro do Império Romano, mesmo por parte de outros grupos sob dominação romana. Por fim, o livro aborda como discursos contemporâneos se valem de ideias da Antiguidade para justificar práticas racistas e xenófobas atuais.

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MULHERES ROMANAS

Em Women and Society in the Roman World: A Sourcebook of Inscriptions from the Roman West (Cambridge; Nova York, Cambridge University Press, 2020, 345 páginas, 130 dólares), Emily Hemelrijk apresenta um catálogo de inscrições do século I a.C. ao século III d.C., para investigar o que essas inscrições podem nos dizer sobre as mulheres da Antiguidade. O livro é organizado em sete capítulos temáticos, abordando temas como relações sociais e familiares, ocupações, posições religiosas, afazeres públicos, mobilidade geográfica e o reconhecimento cívico. A abordagem da autora não se concentra em uma classe social específica, mas trânsita entre diferentes grupos de mulheres, de escravas domésticas às imperatrizes, para argumentar como a epigrafia permite acessar os interesses, papéis sociais, construção de valores e como essas mulheres escolheram ser descritas e recordadas.

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CONVERSAS POLÍTICAS

Em Political Conversations in Late Republican Rome (Oxford, Oxford University Press, 2022, 304 páginas, capa dura, 100 dólares), Cristina Rosillo-López explora a importância de conversas políticas fora dos ambientes institucionais da República Romana. Apesar de trabalhar majoritariamente com fontes produzidas por Cícero e outros membros das elites, a autora ressalta a importância da “política extra-institucional” e as formas como informações e opiniões são obtidas e discutidas fora dos ambientes oficiais da política, enfatizando como concordâncias e discordâncias dependem de condições sociais para poderem ser expressas. A autora também discute como pessoas de fora das elites senatoriais, como libertos, por exemplo, entram e circulam nos meios senatoriais para advogar por seus próprios interesses. Ao final do livro, a autora inclui um apêndice com todas as menções aos atores não-senatoriais mencionados nas fontes trabalhadas.

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PALESTINA ROMANA

Em Class and Power in Roman Palestine. The Socioeconomic Setting of Judaism and Christian Origins (Cambridge University Press, 2019, 353 páginas, 29,99 dólares), Anthony Keddie investiga as formas de organização socioeconômicas do início da dominação da Palestina pelos romanos (63 a.C.-70 d.C.). Com uso de documentação literária (neotestamentária e Flávio Josefo), material (utensílios de mesa, lâmpadas, vestimentas, práticas mortuárias), e análises comparativas com outras províncias, Keddie analisa as mudanças ocorridas em campos como desenvolvimento urbano, propriedade de terras e organização do trabalho, impostos, economia religiosa, e materialidade. Assim, constata que, apesar da obtenção de pequenas melhorias nas condições de vida das não-elites, a integração econômica ao Império aprofundou as desigualdades em relação às elites. Ao reintroduzir questões de classe, distinções sociais e agência das não-elites, Keddie aponta para uma leitura dos textos analisados enquanto contribuições materiais de uma mudança ideológica de classe face às desigualdades da Palestina romana.

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MULHERES EM POMPEIA E HERCULANO

Women’s lives, women’s voices: Roman material culture and female agency in the Bay of Naples (Austin, University of Texas Press, 2021, 360 páginas, 55 dólares) é uma coletânea de estudos, editada por Brenda Longfellow e Molly Swetnam-Burland, sobre experiências de mulheres de diferentes grupos sociais em Pompeia e Herculano. Dividido em três seções temáticas, o livro aborda as construções identitárias públicas e comerciais das mulheres, os modos como elas se autoidentificavam e como eram identificadas por outros e, por fim, como compreender suas vivências por meio das representações idealizadas com as quais foram qualificadas. Com amplo uso de documentação material, dos espaços construídos aos grafites, as autoras de todos os capítulos buscam ultrapassar interpretações que conferiam às mulheres apenas experiências e expectativas enquanto esposas e mães. Enfatizam, para tanto, os modos de ação das mulheres nas relações que mantinham em contextos sociais mais amplos, realizados por meio de suas atuações na família, no trabalho e nas práticas religiosas.

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OLEIROS GREGOS

Em Potters at Work in Ancient Corinth: Industry, Religion, and the Penteskouphia Pinakes (ASCSA, Atenas e Princeton, 2022, 448 páginas, capa mole, 75 dólares), Eleni Hasaki analiza cerca de 100 pinakes, placas de argila decorada, que representam cenas de trabalho em olarias, provenientes de um sítio no sudoeste de Corinto. A autora apresenta aspectos gerais do sítio arqueológico e dos pinakes, para, então, discutir o que chama de “quase um blog visual” do cotidiano dos oleiros: iconografia, tecnologia, organização do trabalho e dos trabalhadores, e sua religião. Para a autora, essas representações são cruciais para compreender o ofício e a tecnologia da cerâmica grega, iluminando também aspectos mais amplos das comunidades de artesãos na Grécia antiga. O livro também inclui um catálogo com as pinakes analisadas.

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HISTÓRIA CULTURAL DO TRABALHO

A Cultural History of Work in Antiquity (London: Bloomsbury, 2020, 232 páginas, £25.99) é o volume dedicado à Antiguidade (sobretudo, o mundo greco-romano, entre 500 a.C.-450 d.C.) da série em seis livros sobre História Cultural do Trabalho, da editora Bloomsbury, que procura redimensionar o trabalho para além da economia. Editado por Ephraim Lytle, a obra segue a mesma organização da coleção, com capítulos que tratam de representações imagéticas de trabalhadores, locais e formas de organização cultural do espaço de trabalho, habilidades e tecnologias empregadas na prática laboral e as relações entre trabalho e mobilidade, sociedade, cultura política e lazer. Os capítulos demonstram, em conjunto, um esforço para superar pressuposições teóricas modernas sobre ideologias na Antiguidade a respeito do valor negativo da prática laboral. Assim, exploram evidências literárias e materiais para compreender as formas de organização e o universo do trabalho e dos trabalhadores na Antiguidade.

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CENAS COTIDIANAS

Em A guide to scenes of daily life on Athenian vases (Madison, University of Wisconsin Press, 2020, 272 páginas, brochura, US$34.95), John Oakley fornece um vasto catálogo de cenas quotidianas presentes em vasos atenienses datados entre 630-320 a.C. Tais cenas foram extraídas de uma variedade de suportes cerâmicos, de jarros para transporte (pithoi) até frascos de perfumes (lekythoi), produzidos por meio das três grandes tradições técnicas áticas (de figuras negras, figuras vermelhas e de fundo branco). As fontes estão divididas em dez capítulos temáticos, dos quais cabe ressaltar aqueles relacionados aos espaços domésticos e de trabalho, aos ambientes da cidade e do campo. Este guia permite a visualização de formas e suportes de representação das práticas de grupos subalternos e provê ferramentas para questionar seus graus de representatividade e das condições de produção, consumo e uso desses objetos figurados.

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ESCRAVOS NA GRÉCIA ANTIGA

Em Slaves and Slavery in Ancient Greece (Cambridge, 2021, 277 p., £18.99), Sara Forsdyke questiona como era ser um escravo na Grécia Clássica (500-300 a.C.). Partindo da definição de escravidão no pensamento grego, Forsdyke investiga, então, a trajetória dos escravizados desde os processos de escravização, os trabalhos que realizavam e as etnias relacionadas a trabalhos específicos até seus mecanismos de fuga, escape, bem como sua influência na cultura grega. A investigação é realizada por meio de fontes literárias, epigráficas, materiais, legais, discursivas, bem como por uma abordagem a contrapelo dos documentos produzidos pelos senhores de escravos. A autora argumenta que precisamos compreender a escravidão grega como uma experiência plural e central na sociedade grega para não reproduzirmos uma imagem incompleta e mistificante da própria Grécia Antiga.

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ESCRAVOS NO EGITO ROMANO

Em L’esclave dans l´Égypte romaine : choix de documents traduits et commentés (Liège: Presses Universitaires de Liège, 2020, 150 páginas, 14 euros), Jean Straus apresenta uma seleção de fontes, traduzidas por ele e outros estudiosos para o francês, sobre a escravidão no Egito Romano. Dentre as 157 fontes apresentadas, a maioria são papiros e ostraka, mas são incluídos, também, textos literários e epigráficos. O livro ainda oferece ferramentas para auxiliar a consulta e a transcrição dos documentos em suas línguas originais, a exemplo do Duke Data Bank of Documentary Papyri, mapas do Egito e da região de Fayyum, glossário sobre eventos, termos úteis para a compreensão dos textos, etc. Os documentos são organizados por temas, tratando desde a escravidão como instituição até as ações, sentimentos, conflitos e interações entre escravizados e entre escravos e livres.

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MULHERES CRISTÃS

Em Mulheres nos Cristianismos Paulinos (Rio de Janeiro: Kliné, 2021. R$30,00), Juliana B. Cavalcanti explora os modos de participação de mulheres nos primeiros movimentos cristãos. Seu estudo se opõe àquilo que a autora vê como um processo multissecular de silenciamento sobre a atuação das mulheres nas primeiras comunidades cristãs. A partir de uma crítica documental do corpus paulino, acompanhada de análise vocabular, comparações com inscrições e análise iconográfica, Cavalcanti realiza estudos de caso sobre as formas de participação das mulheres na difusão e consolidação de saberes e práticas religiosas desses primeiros cristianismos. Personagens como mulheres comuns, viúvas ricas e lideranças religiosas como Tecla estão presentes numa narrativa que combina história e arqueologia.

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EGIPTOLOGIA

The People of the Cobra Province in Egypt: A Local History, 4500 to 1500 BC (Oxford, Oxbow Books, 2020, 288 p., Capa dura, 55 euros), de Wolfram Grajetzki, é um livro pioneiro na Egiptologia por propor o estudo da história do Egito antigo, entre 4500 e 1500 a.C., a partir de baixo. Adotando uma abordagem marxista da escrita da história, Grajetzki realiza um estudo micro-histórico da província de Cobra (Uadjet), explorando evidências arqueológicas do cemitério de Qau, bem como fontes escritas de âmbito local e regional. Seu objetivo é investigar como as classes trabalhadoras dos pequenos vilarejos egípcios viviam e eram afetadas pelas decisões dos governantes. Por fim, mas não menos importante, o autor inova ao refletir sobre como o contexto político contemporâneo e as origens sociais dos egiptólogos têm marcado as visões sobre o passado egípcio predominantes na disciplina .

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MARIA E AS MULHERES CRISTÃS

Mary and Early Christian Women: Hidden Leadership (Cham, Suíça: Palgrave MacMillan, 2019, 295 páginas, capa dura: 31 dólares; pdf: em acesso livre neste link), de Ally Kateusz, aborda como os estudos sobre Maria, mãe de Jesus, tendem a colocá-la como figura secundária e modelo de obediência feminina, apesar da ampla evidência iconográfica e em textos apócrifos indicarem o oposto. Por meio da análise dessas fontes, a autora argumenta como é possível identificar um protagonismo de mulheres, sobretudo de Maria, nas primeiras comunidades cristãs, e como seu silenciamento ocorreu devido aos conflitos internos da igreja sobre papéis de gênero e ao preconceito de escribas em descrever cenas de protagonismo feminino, seja batizando, pregando ou profetizando. Por meio da iconografia, a autora questiona a ascensão do culto mariano, colocando-o como anterior à datação canônica. Também enfatiza Maria como figura de autoridade, observando que seu apagamento como tal é político.

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REVOLTAS ESCRAVAS

Rome’s Sicilian Wars: The Revolts of Eunus and Salvius, 136-132 and 105-100 BC (Pen & Sword Military, 2020, 256 páginas, 49,55 dólares) é um estudo de Natale Barca sobre duas revoltas escravas que aconteceram na Sicília durante o final da República Romana. A primeira revolta foi liderada por Euno, um ex-escravo e profeta, e a segunda por Sálvio, um flautista. As revoltas tiveram a participação de escravos e livres que proclamaram Euno e Sálvio reis e foram brutalmente reprimidas pelas autoridades romanas. Barca discute os fatos das revoltas por meio do contraste e crítica da documentação literária, redigida por elites romanas hostis a elas, reconstrói o contexto político e social da Sicília no período, e defende que os participantes contestavam o próprio controle romano sobre a região, o que diferencia essas revoltas das posteriores, como a de Espártaco.

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LIBERTOS E CULTURA NO IMPÉRIO ROMANO

Em Freed Slaves and Roman Imperial Culture: Social Integration and the Transformation of Values (Cambridge; New York, Cambridge University Press, 2018, 216 páginas, capa dura, 108 dólares), Rose MacLean analisa as estratégias empregadas por libertos para mover-se socialmente e como as elites reagem e se adaptam a essas estratégias.  Valendo-se de fontes literárias e epigráficas, a autora busca contrapor o viés elitizado das fontes literárias com aquelas produzidas pelos próprios libertos. A autora também discute como os libertos não podem ser vistos isoladamente, mas em interação diária com escravos e pessoas livres. Por fim, a autora também analisa, do ponto de vista dos próprios libertos, os efeitos práticos da manumissão, tais como rompimentos, continuidades, os impactos em seus descentes, e a linguagem escolhida por eles para falarem sobre si mesmos.

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PORTADORES DE CARTAS

Em The Bearers of Business Letters in Roman Egypt (Peeters, 2022, 64 páginas. disponível em: https://archive-ouverte.unige.ch/unige:159492), Paul Shubert investiga os portadores de cartas no Egito Romano do século I ao III, resgatando algumas experiências das pessoas comuns que possibilitaram a comunicação em longas distâncias no período. O estudo é desenvolvido a partir de cerca de 2.000 cartas de negócio selecionadas pelo autor entre mais de 60.000 por identificarem de maneira explícita ou implícita seus portadores. A partir delas, além da estrutura formal de comunicação, Shubert investiga as experiências dos portadores no próprio transporte das cartas, bem como em outras atividades e serviços que poderiam realizar em conjunto, a exemplo de portadores de outros itens e de dinheiro, de informações, dentre outras.

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EM CASA NO EGITO ROMANO

Em At Home in Roman Egypt: a Social Archaeology (Cambridge, Cambridge University Press, 2021, 350 páginas, capa dura, 89,83 dólares), Anna Lucille Boozer discute, por meio da teoria social e uma extensa documentação papirológica e arqueológica, a vida cotidiana de “pessoas comuns”, sobretudo de mulheres e crianças. Abordando temas como brincadeiras, educação, relacionamentos (casamento, divórcio, métodos contraceptivos e abortos), cuidados com o corpo, religião doméstica, doenças e morte, a autora oferece uma visão da vida cotidiana no Egito romano, destacando transformações e continuidades, por exemplo, em práticas mortuárias e relativas à reprodução antes, durante e após a ascensão do cristianismo. Assim, a autora visa demonstrar como essas pessoas são agentes ativos na história e contribuem para mudanças culturais mais amplas.

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OS IRMÃOS GRACO

Em La svolta dei Gracchi tra prassi politica e violenza nei reflessione storiografica (Sevilla: Prensas de la Universidade de Zaragoza, 2022,  230 páginas, 21,15 euros) Chantal Gabrielli sublinha que o assassinato dos irmãos Graco foi interpretado como causa do declínio da República Romana na reflexão de historiadores antigos e modernos. Partindo desse pressuposto, seu objetivo é investigar esta reflexão a partir de perspectivas variadas, colocando em foco, sobretudo, seus aspectos jurídico-institucionais. Apesar desse enfoque , cabe ressaltar a importância do evento para discussões sobre, por exemplo, mobilização popular no período. A esse respeito, a autora contrasta alguns discursos normativos que investiga com registros de vozes populares, literários e epigráficos, que sugerem, por vezes, percepções distintas sobre o evento.

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CLASSE E CRISTIANISMO

Em The Struggle Over Class: Socioeconomic Analysis of Ancient Christian Texts (Atlanta: The Society of Biblical Literature, 2021, 472 páginas, capa mole US$ 61.04), coletânea de estudos organizada por G. Keddie, M. Flexsenhar e S. Friesen, pesquisadores do Novo Testamento e do Cristianismo das origens buscam analisar, de forma crítica, as categorias socioeconômicas utilizadas para compreender textos cristãos antigos. Eles testam, em especial, as diferentes concepções de “classe” (Marxista, Weberiana, etc), bem como suas relações com outras formas de diferenciação  social (etnia, gênero, religião, etc), para a compreensão de cinco categorias de fontes: as epístolas, a tradição Sinótica, João e os Atos, textos apocalípticos e a literatura patrística. A partir dessas fontes, eles investigam como, por exemplo, construções identitárias de classe, divergências e conflitos daquele tempo podem ser apreensíveis a partir dos conceitos discutidos.  Os autores também abordam temas como a vida doméstica, a escravidão, o casamento, as práticas mortuárias, associações de trabalho e afiliações religiosas.

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ESCRAVOS NA ANTIGUIDADE TARDIA

Slavery in the Late Antique World, 150-700 CE (Cambridge University Press, 2022, Capa dura, 359 p., $ 120), editado por Chris L. de Wet, Maijastina Kahlos e Ville Vuolanto, é uma coletânea de estudos sobre a escravidão e as condições de vida dos escravizados na Antiguidade Tardia em suas variações culturais e geográficas. O livro e o resultado do esforço de uma equipe composta por membros dos Estados Unidos, da África do Sul, da Europa e da América Latina. Os autores colocam em perspectiva os escravizados nas regiões periféricas do Império Romano e apresentam a abordagens históricas comparativas, fontes escritas em cóptico, siríaco, árabe, latim e grego, e uma diversidade de inscrições e papiros. Também discutem as relações entre escravidão e discursos sociais, gênero, faixa etária e etnicidade, entre outros assuntos. Esta diversidade de temas, abordagens e fontes torna a obra uma ótima introdução às pesquisas mais recentes sobre a temática neste período histórico específico.

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GEOGRAFIA ILETRADA

Em Illiterate geography in classical Athens and Rome (Routledge, 2020, 278 p., Capa dura, $128,00 [eBook $39,16]), Daniela Dueck investiga a circulação de conhecimentos geográficos por meios auditivos e visuais entre os grupos iletrados de Atenas e de Roma em seus períodos de expansão (508-338 a.C. e 264 a.C.-14d.C.). Os documentos investigados pela autora se tratam de comunicações orais preservadas por escrito, performances públicas e não textuais, bem como materiais visuais, permitindo-a acessar informações geográficas transmitidas para além dos pequenos círculos das elites letradas. O livro demonstra, assim, que muita informação geográfica circulava entre as populações de Atenas e de Roma, estimulando novas investigações acerca da construção e da transmissão desses conhecimentos entre os grupos subalternos no Mediterrâneo Antigo.

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ATENAS NAS MARGENS

Em Athens at the margins: pottery and people in the early Mediterranean world (Princeton, Princeton University Press, 2021, 344 páginas, 45 dólares), Nathan Arrington estuda o surgimento e a difusão da cerâmica grega de estilo protoático em Atenas, no século VII a.C. Sua abordagem parte da recusa do paradigma explicativo “orientalizante” e do enfoque nas práticas de consumo das elites. Arrington concentra-se nas interações estabelecidas nas margens e por marginalizados: tanto no âmbito geográfico (nos contatos entre Atenas, a Ática e o Mediterrâneo), quanto social (nas relações de produção e consumo dos objetos). Para isto, investiga os contextos materiais de ateliês, necrópoles, santuários e simpósios. Vale ressaltar seu enfoque na cooperação de artesãos para a grande variabilidade estilística da cerâmica protoática. Contudo, cabe conferir até que ponto as experimentações e diversidade dos objetos estariam conectadas com a alegada falta de hegemonia cultural e a suposta indistinção sociocultural entre as elites e os demais atores sociais.

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INSTRUMENTOS DE ESCRITA

Em Manual of Roman Everyday Writing Vol. 2 Writing Equipment (LatinNow ePubs, 2021, e-book, disponível para download aqui), Anna Willi introduz os leitores aos instrumentos de escrita utilizados para a produção de textos manuscritos no Império Romano. O catálogo de equipamentos discutidos inclui utensílios para escrita (estilete, cálamo, pincel) e suportes (madeira, papiro, pergaminho, metais e outros), além de vários outros acessórios (como tintas, estojos, espátulas, etc.). O catálogo é precedido por uma útil apresentação dos aspectos sociais da escrita e das técnicas utilizadas para se escrever no Império Romano. Ainda que ressaltando o prestígio social associado à escrita na sociedade romana, a autora demonstra como a escrita era também utilizada de forma funcional em comércios, centros de produção e acampamentos militares por pessoas sem educação formal e não apenas por homens, mas também por mulheres.

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ESCRITA CURSIVA ROMANA

Em Manual of Roman Everyday Writing Vol. 1 Scripts and Texts (LatinNow ePubs, 2021, e-book, disponível para download gratuito aqui), Alan Bowman e Alex Mullen apresentam um manual para a leitura e compreensão de documentos escritos em cursiva romana, ou seja, a escrita do dia a dia. Os autores descrevem os tipos de documentos que utilizam essa escrita, as principais publicações com esses documentos acompanhadas por links para acesso. O livro também oferece exemplos práticos sobre o aprendizado e os usos da escrita em diferentes partes do Império Romano, demonstrando como pessoas de diversas classes sociais aprendiam e utilizavam o latim de diferentes maneiras, seja nos centros produtores de cerâmica, nos acampamentos militares ou em funções da administração provincial.

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GLADIADORES

Nesta segunda edição, revista e ampliada, de Gladiadores na Roma Antiga: dos combates às paixões cotidianas (Curitiba, Editora UFPR, 2021, 223 páginas, 38 reais), Renata Senna Garraffoni mantém o essencial de sua investigação sobre a vida cotidiana e as percepções populares dos gladiadores no início do Principado Romano, por meio da documentação epigráfica, literária e arqueológica, mas também aprofunda aspectos apenas insinuados na edição anterior. Em particular, há uma maior preocupação de problematizar as formas de construir o passado a partir das questões políticas do presente e uma abertura para as questões de gênero, ao investigar o cotidiano dos gladiadores por meio da análise das percepções de masculinidade no período. Explorando temas pouco debatidos na historiografia sobre os combates, Garraffoni nos convida a repensar o passado romano de maneira mais plural e a “ouvir as vozes dispersas daqueles que lutavam nas arenas”.

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CONSTRUTORES DAS PIRÂMIDES

Quem construiu as pirâmides do Egito? Les papyrus de la mer Rouge II: Le “journal de Dedi” et autres fragments de journaux de bord (Papyrus Jarf C, D, E, F, Aa) (Paris, Institut français d’archéologie orientale, 2021, 312 páginas, 49 euros), por Pierre Tallet, oferece novos elementos de resposta a essa pergunta. Completando a edição de um lote de papiros descoberto em 2013 no sítio do uádi el-Jarf, os papiros deste volume são fragmentos de “diários de bordo” do início da IV Dinastia que nos dão acesso a pessoas concretas envolvidas na construção das pirâmides, como o inspetor Merer e o escriba Dedi. Eles nos mostram que a equipe de trabalhadores estava dividida em quatro grupos, cada um com 40 homens dirigidos por um inspetor, e detalham o sistema de transporte dos blocos de pedra das minas de calcário de Tourah até Gizé. A descoberta ainda revela que os trabalhadores estavam envolvidos em muitas outras atividades e eram tratados como verdadeiros “trabalhadores de elite”, recebendo inclusive muitas vantagens.

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NOVO TESTAMENTO

Class Struggle in the New Testament (Lanham, MD, Fortress Academic, 2019, 298 páginas, 115 dólares), editado por Robert Myles, explora os conceitos de “classe” e de “luta de classes” nos estudos bíblicos. Pautados sobre a análise dos textos e das tradições que compõe o Novo Testamento, os diferentes autores discutem questões como a utilidade de categorias como camponeses, empregados e grupos intermediários no tempo de Jesus, as lutas coletivas, os usos bíblicos da escravidão como metáfora, temas mais abrangentes como as implicações da ideologia capitalista sobre a interpretação da Bíblia, dentre outros. O livro se torna, desse modo, uma referência para refletirmos, de maneira mais ampla, sobre as realidades políticas e econômicas e as relações e lutas sociais no Mediterrâneo do primeiro século de nossa era.

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RELIGIÃO E ESCRAVIDÃO

Em Religion Romaine et esclavage au Haut-Empire: Rome, Latium et Campanie (Roma: École Française de Rome, 2021. 421 p., €35, disponível online), Bassir Amiri aborda as práticas religiosas dos escravizados no Império romano entre os séculos I a.C. e III d.C. Para além da abordagem de uma exclusão dos escravizados nas performances religiosas, Amiri demonstra as formas e as condições de participação desses atores sociais em contextos como os de sacrifícios públicos, de culto dos uici, nos collegia, familia e rituais mortuários. Com amplo uso de documentação epigráfica e arqueológica em confrontação com fontes literárias, Amiri aponta que não se trata de definir uma religião única dos escravizados, e sim delinear a multiplicidade de relações com os fenômenos religiosos que os escravizados experimentaram em seus contextos mais amplos de sociabilidade, como a casa e a cidade.

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JÚLIO CÉSAR

Em Julius Caesar and the Roman People (Cambridge University Press, 2021, 690 p., US$ 59,99, capa dura), Robert Morstein-Marx procura devolver o caráter histórico republicano de Júlio César. Para isto, o autor parte da compreensão de que a República romana não era uma oligarquia, mas uma ordem política republicana participativa, em que o Povo era associado com a aristocracia não apenas na direção de eventos políticos, como também na determinação do que era e deveria ser a República. Compreender esta força da plebe romana permite questionar e minar interpretações teleológicas sobre a invariável aspiração autocrática de César e, por conseguinte, sobre o fim inevitável da República. Assim, Morstein-Marx demonstra que, em um regime que combinava poder popular com empreendimento aristocrático, as escolhas e as relações tecidas por César eram representativas das tradições republicanas romanas de liderança.

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GRAMSCI

Antonio Gramsci and the Ancient World (Routledge, 2021, 402 páginas, 160 dólares [Ebook 44,05 dólares]), editado por Emilio Zucchetti e Anna Maria Cimino, reúne ensaios sobre as relações entre a obra do pensador marxista italiano Antonio Gramsci e a antiguidade greco-romana. As autoras e os autores analisam temas da Grécia Arcaica à Antiguidade Tardia à luz de concepções gramscianas, as recepções de suas teorias entre classicistas e antiquistas e as próprias reflexões de Gramsci sobre aspectos da história greco-romana. Para estudiosos da História Antiga “a partir de baixo”, o livro apresenta um pensador importante para o desenvolvimento dessa abordagem na História em geral, demonstrando, também, as maneiras inovadoras como suas teorias auxiliam a colocar questões aos documentos antigos nesta perspectiva.

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ESCRAVIDÃO ANTIGA

Em Historicising Ancient Slavery (Edinburgh, Edinburgh University Press, 2021, 280 p., 85 libras), Kostas Vlassopoulos estuda o fenômeno da escravidão e sua centralidade para os estudos das sociedades gregas e romanas na Antiguidade. Insurgindo-se contra tendências que atribuem à escravidão antiga um caráter a-histórico, tipológico, compreendido apenas pela perspectiva dos senhores, Vlassopoulos propõe um estudo historicista e processual da escravidão, que pretende demonstrar como o fenômeno se transformou ao longo do tempo e como se desenvolveu em localidades distintas. Além disso, o autor procura entender a escravidão também pela perspectiva dos escravizados, com enfoque para como estes concebiam suas experiências e como construíam suas próprias identidades a partir das relações com seus senhores, com cidadãos livres e com outros escravizados.

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CAMPONESES

The Roman Peasant Project 2009-2015: Excavating the Roman Rural Poor (University of Pennsylvania Press, 2021, 824 páginas, 120 dólares), editado por Kim Bowes e dividido em dois volumes, apresenta os resultados de um projeto arqueológico inovador, voltado especificamente a compreender a vida dos camponeses pobres na Itália antiga. Conduzido por uma equipe ítalo-estadunidense em Cinigiano, região da Toscana, entre 2009 e 2015, o projeto abordou aspectos diversos da vida do campesinato entre os séculos II a.C. e VI d.C.: seus usos da terra, alimentação, mercados e mobilidade. Os resultados oferecem uma visão mais complexa dos camponeses do que a sugerida pelos documentos escritos ou pelos modelos tradicionais, revelando sofisticados sistemas de uso da terra, acesso a bens de consumo, mas também o constante movimento dessas populações.

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CRISTIANISMO PRIMITIVO

Em Religião e Poder no Cristianismo Primitivo (São Paulo, Paulus, 2020, 208 páginas, 27 reais), Paulo Nogueira estuda a experiência religiosa dos primeiros cristãos por meio da apocalíptica judaica, dos evangelhos, do livro do Apocalipse, dos papiros mágicos gregos e de amuletos escritos. O autor situa o contexto social e cultural de produção dessas fontes, investigando as formações comunitárias dos primeiros cristãos por meio delas. As viagens à corte celestial, a glossolalia e os relatos de transfiguração são considerados pelo autor como experiências constitutivas da espiritualidade e dos grupos cristãos que influenciam suas relações com instituições, com outras religiões e entre os próprios cristãos. O autor também discute a identidade dos primeiros cristãos por meio de passagens bíblicas e sua vida cotidiana a partir de símbolos religiosos.

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LOJAS ROMANAS

Em The Roman Retail Revolution: The Socio-Economic World (Oxford, Oxford University Press, 2018. p. 320. Capa dura, 85 dólares), Steven J. R. Ellis argumenta, a partir de uma rica documentação arqueológica, centrada em Pompeia, mas com fontes de cidades de todo o mundo romano, como o comércio estabelecido em lojas instaladas defronte às ruas torna-se parte marcante da experiência urbana romana. No processo que estuda, do século II a.C. até o III de nossa era, ele aponta três “revoluções” sucessivas: o surgimento das lojas (tabernae), a especialização desses estabelecimentos em funções específicas e sua difusão por todo o Império. Assim, mais do que focar nas trocas em nível macro, Ellis demonstra os impactos do comércio varejista na experiência urbana quotidiana e na vida dos populares.

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VOZES MARGINALIZADAS

Nas fontes greco-romanas, os escravizados são, frequentemente, descritos como não confiáveis e incapazes de dizerem a verdade, exceto sob tortura. Em Slavery, Gender, Truth, and Power in Luke-Acts and Other Ancient Narratives (Palgrave Macmillan, 2019, XXIV, 247 páginas, Capa dura, 83,19 euros [Ebook Kindle, 66,99 euros]), Christy Cobb coloca em perspectiva três mulheres escravizadas do Evangelho de Lucas e dos Atos dos Apóstolos para analisar, a despeito de seu status e gênero, sua função narrativa de quem diz a verdade ao poder, confirmando a teologia de Lucas em circunstâncias diversas. Essa análise é realizada a partir da teoria de Bakhtin em função de uma abordagem feminista, bem como pela correlação das personagens com outras escravizadas descritas nos Atos Apócrifos, nos romances antigos e representadas em monumentos funerários. Em geral, a autora mostra como essas vozes marginalizadas contradizem percepções antigas, rompendo hierarquias convencionais.

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GRÉCIA E ROMA

Nesta nova edição de Grécia e Roma (Editora Contexto, 2020, 153 páginas, 35 reais), Pedro Paulo Funari apresenta, de maneira didática, um panorama sobre as culturas grega e romana, desde suas origens até sua influência em nossa própria sociedade. Utilizando fontes arqueológicas, epigráficas e literárias, o autor aborda grandes temas, como organização política e conflitos, mas também explora a forma como as pessoas viviam e se relacionavam, esmiuçando diferenças entre as elites e os cidadãos comuns, organização e mobilidade social, as diferentes formas de ver e tratar escravos (ou, no caso de Esparta, os hilotas, que não eram escravos, mas trabalhadores submetidos), mulheres e crianças, a sexualidade, a arte e a religião. O autor problematiza alguns conceitos e oferece uma ampla gama de fontes que podem servir de base para uma pesquisa mais aprofundada, inclusive para aqueles interessados nos estudos dos grupos populares.

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HISTÓRIA VISTA DE BAIXO

Escrever uma história antiga a partir de baixo é possível? Que fontes podemos usar? Que métodos e abordagens podemos empregar? Que conceitos são necessários para este esforço? Em Ancient History from Below: Subaltern Experiences and Actions in Context (Routledge, 2022, 320 páginas, capa dura: 160 euros; eBook: 48,95 euros), editado por Cyril Courrier e Julio Cesar Magalhães de Oliveira, um grupo de historiadores e arqueólogos de diferentes países procura responder a esses desafios a partir de estudos de caso que vão desde a Grécia clássica até a Antiguidade Tardia. Unidos pela convicção de que o estudo das experiências e das ações dos grupos subalternos na Antiguidade não é somente possível como, também, necessário, os autores buscam caminhos para uma escrita da História Antiga que seja ao mesmo tempo mais plural, mais inclusiva e, por isso mesmo, mais emancipadora.

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ESCRAVIDÃO E SEXUALIDADE

Editado por Deborah Kamen e C.W. Marshall, Slavery and Sexuality in Classical Antiquity (University of Wisconsin Press, 2021, 336 p., US$ 99,95) é uma coletânea que intenta interseccionar sexualidade e escravidão na Antiguidade grega e romana. A principal questão de seus 13 capítulos é como as práticas sexuais dos escravizados se inseriam em contextos relacionais de poder, domínio e violência. Além disso, há o esforço dos autores em alcançar as formas de resistência e as instâncias de ação dos escravizados nessas circunstâncias de dominação e sexo. Com o uso de uma variedade de fontes, tais como epigráficas, literárias, jurídicas, materiais e representações artísticas, os autores apontam para as inconsistências dos discursos dos proprietários sobre seus escravizados e oferecem modos de perceber as subjetividades, lutas, traumas e os desejos sexuais dos próprios escravizados.

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LIBERTOS

Em De Escravos a Benfeitores: os libertos e a munificência na Hispania Romana (São Carlos, Pedro & João Editores, 2021, 211 páginas, 30 reais), Filipe Noé da Silva investiga como escravos alforriados na província romana da Bética manifestaram generosidade para com suas cidades como forma de garantir outra reputação social, rompendo com seu passado de escravidão. O estudo se foca nos séculos I e II d.C. e toma como fontes os registros epigráficos e textos da tradição manuscrita, como os escritos de Plínio, o Jovem, e de Cícero. O autor aborda, dessa maneira, uma prática comum aos ricos e notáveis locais das cidades helenísticas e imperiais romanas de investimento material em suas comunidades cívicas para assegurar o reconhecimento da coletividade, mas sob uma perspectiva original e instigante: a de um grupo subalterno que, mesmo desprovido de plenos direitos, soube atuar para minimizar as consequências de seu passado de escravidão.

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TRABALHO E IDENTIDADE

Em The Dignity of Labour: Image, Work and Identity in the Roman World (Chalford: Amberley Publishing, 2021. 288 p., £20, capa dura), Iain Ferris apresenta como representações artísticas de ofícios e de trabalhadores romanos eram utilizadas como meios de construção identitária e negociação de status social no mundo romano. Escrito para um público amplo, Ferris analisa diversas evidências materiais do ocidente romano, sobretudo inscrições e monumentos mortuários, que representavam os ofícios dos trabalhadores urbanos, no interior de um amplo recorte temporal, que vai da República até a o Império Tardio. Trata-se de uma boa introdução ao tema da autorrepresentação identitária e para o debate sobre as formas de inserção e distinção de trabalhadores de várias condições econômicas no interior das estruturas sociais romanas ao longo do tempo.

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100 TEXTOS

100 textos de História Antiga (Editora Contexto, 2021, Brochura, 160 páginas, 37 reais), editado por Jaime Pinsky, aparece em edição comemorativa dos 50 anos da clássica coletânea de fontes do Egito e da Mesopotâmia antigos, da Grécia Clássica e do Império Romano traduzidas para o português brasileiro na década de 1960. A obra possui grande importância no ensino de História Antiga no Brasil por permitir a professores e alunos o acesso a documentos, até então, disponíveis somente nas línguas originais e em traduções para o inglês e o francês. As fontes são organizadas por temas, estimulando análises comparativas, e tratam de assuntos diversos que vão das transformações políticas ao escravismo, estrutura familiar e papel das mulheres, tornando-as de igual interesse, portanto, às estudiosas e aos estudiosos dos grupos subalternos na Antiguidade.

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CÍCERO

Em Defesa de Milão (Archeditora, 2021, 216 páginas, Brochura, 54,90 reais), traduzido pela primeira vez para o português brasileiro por Marlene Borges, é um discurso proferido por Cícero em favor de Milão, candidato a cônsul exilado por haver assassinado Públio Clódio, o mais radical dos políticos populares no último século da República Romana. Borges inclui, ainda, a tradução de um comentário de Ascônio que se contrapõe à retórica de Cícero. Em conjunto, os dois textos nos permitem discutir o engajamento político a partir das circunstâncias que levaram ao assassinato de Clódio e da comoção popular que ele desencadeou na cidade de Roma, expressa em revoltas que resultaram, entre outros incidentes, no incêndio do Senado. Em tradução direta do original e formato bilíngue, Latim-Português, a edição inclui uma Introdução sobre os acontecimentos narrados e aspectos da retórica de Cícero, bem como notas da tradutora.

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RELIGIOSIDADE POPULAR

Em The Dancing Lares and the Serpent in the Garden: Religion at the Roman Street Corner (Princeton University Press, 2017, 416 p., 48 dólares), Harriet Flower se dedica ao estudo dos lares, divindades protetoras dos lugares, representadas em clima de festa e aos pares, dançando com túnicas curtas e despejando o vinho. Por meio de fontes literárias, arqueológicas e epigráficas de sítios na Grécia e na Itália, Harriet Flower estuda o culto aos  Lares em suas diferentes representações e funções, e convida o leitor a conhecer o mundo da religiosidade popular romana, exercida nas esquinas e nos altares domésticos, presente em diferentes fases da vida. Assim, demonstra, o processo de construção de um senso de comunidade no interior dos grupos subalternos romanos por meio das práticas religiosas.

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IDENTIDADES PROFISSIONAIS

Em Carving a Professional Identity. The occupational epigraphy of the Latin West (Oxford, Archaeopress, 2021, 119 páginas, 25 libras), Rada Varga estuda as relações sociais nas províncias ocidentais do Império Romano por meio das representações dos trabalhadores em registros epigráficos feitas por eles mesmos, entre os séculos I-III de nossa era. Por meio de uma análise qualitativa e quantitativa, com enfoque nas ocupações, distribuição espacial e nas formas dos monumentos, Varga analisa as especificidades identitárias de cada categoria profissional. Ao fim, há um catálogo extenso com todos registros epigráficos utilizados, com nome, profissão, província e datação. Cada registro ainda conta com indicação de sua entrada na base de dados Romans 1by1, de acesso livre, em que é possível explorar maiores detalhes sobre cada inscrição particular.

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PORTADORES DE DEFICIÊNCIAS

Em Disabilities and Disabled in the Roman World: A Social and Cultural History (Cambridge, Cambridge University Press, 2018, Capa dura, 248 páginas, 99,99 dólares), Christian Laes parte de definições contemporâneas de deficiências físicas e mentais, analisando as experiências sociais e as percepções culturais sobre pessoas portadoras dessas características no Império Romano. Investigando documentos escritos, representações imagéticas, ossaturas humanas, Laes discute as deficiências mentais e cognitivas, a cegueira, a surdo-mudez, as dificuldades para discursar e para se movimentar de pessoas diversas no período. O livro apresenta uma síntese dos tratamentos e dos discursos médicos, filosóficos e patrísticos, das experiências cotidianas e das chances de sobrevivência de pessoas portadoras de deficiências no mundo romano, estimulando novos estudos sobre o tema.

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COLONIZAÇÃO E SUBALTERNIDADE

Em Colonization and Subalternity in Classical Greece: Experience of the Nonelite Population (Cambridge University Press, 2017, Brochura, 34,99 dólares), Gabriel Zuchtriegel reconstrói as experiências das populações subalternas nas colônias gregas do período clássico (séculos V e IV a.C.). Este estudo é realizado por meio de dados arqueológicos, documentos literários e fontes epigráficas analisados em conjunto e iluminados por uma teoria pós-colonial que inclui nos processos de subalternização  razões socioeconômicas, mas, também, étnicas e de gênero. Além de iluminar de forma inovadora o mundo grego colonial, o livro é também fundamental por abordar alguns dos principais problemas envolvidos no estudo da subalternidade no Mediterrâneo Antigo.

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SUBÚRBIOS ROMANOS

Em Life and Death in the Roman Suburb (Oxford, Oxford University Press, 2020, 304 páginas, Capa dura, 69.53 dólares [Ebook Kindle, 66.05 dólares]), Allison Emmerson parte da relação conflituosa entre monumentos funerários e espaços urbanos das cidades romanas para investigar as características materiais e, portanto, atividades humanas desenvolvidas nos espaços extramuros, os subúrbios. Abrangendo subúrbios de dezenas de cidades da península Italiana, Emmerson os compreende como mais do que interlúdios entre os mundos rurais e urbanos, observando a coexistência entre túmulos e habitações, tabernas, oficinas e lojas sem qualquer paradoxo  (em contraste com os limites murados das cidades). A imagem dos subúrbios que emerge, portanto, é de microcosmos cujos mortos estão presentes, mas que são, também, repletos de vida. O livro nos permite, assim, refletir sobre as interações entre pessoas e atividades distintas, de camadas sociais e características diversas, mesmo que essas interações e atividades não sejam, necessariamente, o foco do estudo.

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VIDA QUOTIDIANA

Daily Life in Late Antiquity (Cambridge: Cambridge University Press, 2018, x + 250 páginas, 21,78 libras), de Kristina Sessa, é um livro sobre práticas e experiências rotineiras de diferentes grupos sociais no Império Romano Tardio. Nele, o leitor é levado a compreender os ritmos que constituíam os mundos rural e urbano, a composição das famílias e casas pobres e ricas, as relações mantidas com os corpos, de cuidados médicos aos vestuários, as práticas e os rituais religiosos, e os modos com que o Império se fazia presente na vida de seus habitantes. Sessa integra e correlaciona elementos abordados geralmente em separado, tais como campo e cidade, pobres e ricos, com intuito de demonstrar a fluidez destas interações, sem deixar de sublinhar as relações de poder existentes. Escrito para um público amplo, com uso rico e diversificado de fontes, o livro é uma ótima porta de entrada para os debates sobre a vida quotidiana na Antiguidade Tardia.

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2020

MULHERES GREGAS

Em Slave-Wives, Single Women and “Bastards” in the Ancient Greek World: Law and Economics Perspectives (Oxford; Philadelphia: Oxbow Books, 2018, 224 páginas, capa mole, 38 euros) Morris Silver analisa uma vasta documentação literária e epigráfica para compreender a situação legal e econômica das mulheres gregas em relação ao matrimônio. Investiga, em particular, as esposas com estatuto de escravas e as mulheres solteiras. No primeiro caso, o autor ressalta a liberdade que desfrutavam para administrar suas casas na ausência dos maridos e a capacidade de acumularem riquezas para si e para seus herdeiros. No segundo caso, contrariando uma visão que as compreendia, necessariamente, como prostitutas, observa a dedicação de muitas delas à produção e ao comércio têxtil. Em geral, Silver apresenta uma visão dinâmica da situação das mulheres gregas em relação ao matrimônio.

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PLAUTO

Leandro Dorval Cardoso traz para o português uma das mais conhecidas peças do dramaturgo romano Plauto (século III a.C.), O Anfitrião (São Paulo, Editora Autêntica, 2020, 176 páginas, R$ 54,90). Farsa mitológica sobre o nascimento de Hércules, ela conta como Júpiter assume a forma de Anfitrião, comandante do exército tebano, durante sua ausência para passar uma noite com Alcmena, sua esposa, desencadeando confusões em seu retorno. Em sua trajetória, Anfitrião é acompanhado pelo seu escravo Sósia, cujo protagonismo é marcante na peça. Por meio de Sósia, podemos vislumbrar aspectos da escravidão romana que vão desde a opinião pública sobre como um escravo deveria se comportar até os temores e as aspirações dos escravos, sempre presentes em suas falas. A edição possui formato bilíngue Latim-Português e a tradução, poética e rítmica, é direta do original.

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ANTIGUIDADE TARDIA

Em A Social and Cultural History of Late Antiquity (New Jersey, Wiley, 2018, U$ 37,99 e-book; U$ 46,75, p. xxix + 285), Douglas Boin explora múltiplas questões sobre a Antiguidade Tardia “de baixo para cima”, com a preocupação de integrá-las em quadros sociais mais amplos. Boin perpassa temas tão diversos como mobilidade social, vida urbana, organização política, laços familiares, constituição de comunidades e religiosidades, sempre procurando estabelecer um diálogo entre passado e presente e discutindo as questões políticas e de poder envoltas nesses temas. A partir de uma gama diversificada de fontes, somos introduzidos numa narrativa de histórias de pessoas, grupos, objetos e ideias que se entrecruzam no Mediterrâneo de fins do século III até início do VIII.

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​ÁFRICA ROMANA

Em Sociedade e Cultura na África Romana: oito ensaios e duas traduções (São Paulo: Intermeios, 2020, 252 páginas, 55 reais), Julio Cesar Magalhães de Oliveira apresenta a história do Norte da África desde a conquista romana até a Antiguidade Tardia a partir de baixo, enfatizando as experiências de pastores, soldados, camponeses e a história do cristianismo. Essa história é analisada nos oito ensaios que constituem o livro, o qual traz ainda a tradução comentada de fontes, uma epigráfica e outra da tradição manuscrita, inéditas em língua portuguesa. No decorrer dos ensaios, em diálogo com debates recentes sobre o significado das ações populares no período, Magalhães de Oliveira correlaciona algumas das formas e dos meios dessas ações, expressas em protestos de camponeses e em conflitos religiosos, com as condições derivadas da integração da África às estruturas do Império Romano. Aliada à erudição e ao rigor analítico, o livro é marcado por uma linguagem fluida, tornando-o acessível a um público amplo.

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OPINIÃO PÚBLICA

Em Public Opinion and Politics in the Late Roman Republic (Cambridge, Cambridge University Press, 2017 [capa mole, 2020], xii+270 páginas, 39,99 dólares), Cristina Rosillo-López investiga os mecanismos de funcionamento da opinião pública na República Romana Tardia como parte da política informal. A autora explora a interação e a oposição política entre a elite e o povo por meios como os rumores, as fofocas, a literatura política, os versos populares e os grafites. Ela propõe a existência de uma esfera pública no período, analisa a opinião pública como um sistema de controle e estuda a sociabilidade e os encontros informais nos quais a opinião pública circulava. O que emerge deste estudo é um conceito de participação política do povo que não é mais restrita às eleições ou à participação nas assembleias.

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MULHERES E GÊNERO

O que os grafites nos dizem sobre como agiam e o que pensavam as mulheres de Pompeia? O que a reação dos discípulos de Jesus ao verem-no conversando com uma mulher nos diz sobre as relações de gênero nas primeiras comunidades cristãs? Essas e outras questões são tratadas em Mulheres, Gênero e Estudos Clássicos: um diálogo entre Espanha e Brasil (Barcelona: Universitat de Barcelona; Curitiba: UFPR, 2020, 373 páginas, 180 reais), livro originado da colaboração entre antiquistas da Espanha e do Brasil, organizado por Renata Senna Garraffoni e Manel García Sanchez. As autoras e os autores versam sobre as relações de gênero na Grécia e na Roma antigas e suas representações, contribuindo para o avanço dos estudos sobre as mulheres a partir de uma visão crítica quanto à sua marginalização nas narrativas históricas tradicionais.

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APÓCRIFOS

Os atos dos apóstolos chamados “apócrifos” são aqueles que não foram incluídos no cânone bíblico, mas eles circulavam livremente nas primeiras comunidades cristãs. Valtair Afonso Miranda traz para o português os Atos Apócrifos de Pedro (São Paulo, Paulus, 2019, 96 páginas, 19 reais). Trata-se de uma fonte interessante para o estudo da cultura popular e dos subalternos nas comunidades cristãs dos séculos II e III. O texto é marcado pela forte presença de situações miraculosas, folclóricas e inusitadas, como um cachorro falante que anda em duas patas e a ressurreição de um peixe defumado, bem como de pessoas em situações de adversidade social, mulheres viúvas e adúlteras, pobres e destituídos em geral. A edição teria muito a ganhar com uma tradução direta do original e um formato bilíngue.

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ESCRAVIDÃO

Em Ancient Greek and Roman Slavery, (Malden, Wiley, 2018, 264 páginas, capa mole, 36.25 dólares) Peter Hunt parte da centralidade da escravidão como instituição na antiguidade e objeto de reflexão na modernidade e na contemporaneidade para introduzir o leitor às questões mais discutidas sobre o tema. O livro é construído a partir de uma abordagem comparativa entre a Grécia e a Roma antigas que versa sobre as relações entre a escravidão e a economia, a política, a sociedade e a cultura por meio de um escopo amplo de evidências desde historiográficas até epigráficas. Dentre os temas introduzidos, Hunt não se limita às normas e ao lugar dos escravos nas sociedades greco-romanas, explorando também suas possibilidades de ação, as “armas dos fracos” que lhes permitiam resistir à opressão social cotidiana.

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2019

PROSTITUIÇÃO

Em The Brothel of Pompeii: sex, class and gender at the margins of Roman Society (Cambridge: Cambridge University Press, 2019, 266 páginas, 95 dólares), Sarah Levin-Richardson examina as ruínas arqueológicas de um bordel – o chamado Lupanare – que funcionava na cidade de Pompeia. De início, Levin-Richardson reconstrói e da vida ao Lupanare a partir da análise da arquitetura, decoração, objetos e grafites procedentes do local. Em seguida, explora as experiências – sociais, físicas e emocionais – tanto das prostitutas quanto da clientela do bordel. The Brothel of Pompeii é um trabalho interessante sobretudo para aqueles que desejam conhecer a história da prostituição romana a partir da experiência de mulheres, escravos, trabalhadores e outros grupos subalternos.

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APULEIO

O Asno de Ouro, de Apuleio (trad. Ruth Guimarães, prólogo de Adriane da Silva Duarte, São Paulo, Editora 34, 2019, 480 páginas, R$ 88) é o único romance latino da Antiguidade a sobreviver na íntegra até hoje. Narra as desventuras do jovem Lúcio que, pagando o preço de sua curiosidade pela magia, se transforma em um burro, porém sem perder sua inteligência. Raptado por um bando de salteadores e passando depois por vários donos, esse observador insuspeito descreve a vida de homens e mulheres de todas as classes sociais, inclusive dos grupos subalternos e marginalizados pouco retratados na literatura antiga. Edição bilíngue, com o texto original latino e a tradução para o português de Ruth Guimarães, o livro conta ainda com a excelente introdução de Adriane da Silva Duarte.

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HISTÓRIAS DE ROMA

Um escravo em Roma podia se casar? Os romanos eram machões? Como as mulheres romanas cultivavam a amizade? Essas e outras questões são os temas de Roma Antiga: Histórias que você sempre quis saber (São Paulo: Fonte Editorial, 2019, 142 páginas, sem preço), novo livro de Pedro Paulo Funari e Filipe Silva. Os autores apresentam, de forma leve e agradável, uma série de histórias sobre o mundo romano, muitas delas sobre os subalternos, a gente comum. As charadas populares, as gozações dos eleitores, a paquera à Romana, o vinho, as roupas e as latrinas são apenas alguns dos temas desse livro que pode servir como um bom ponto de partida para quem deseja conhecer um pouco da vida de todos os dias na Roma antiga.

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ESTUDOS CLÁSSICOS

A People's History of Classics, de Edith Hall e Henry Stead (Londres e Nova Iorque, Routledge, 2020, 670 páginas, 26,39 libras, capa mole) explora a influência do passado clássico na vida das pessoas da classe trabalhadora na Grã-Bretanha e na Irlanda do final do século XVII ao início do século XX. Utilizando diversas fontes de informação, publicadas e inéditas, em arquivos, museus e bibliotecas do Reino Unido e da Irlanda, Hall e Stead examinam a experiência da cultura clássica na classe trabalhadora, desde a Declaração de Direitos de 1689 até a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Como mostram os autores, a educação clássica não precisa ser elitista ou reacionária. Se ela foi muitas vezes o currículo do império, o interesse dos trabalhadores e do movimento operário pelos clássicos nos mostra que ela pode ser também o currículo da libertação.

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