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Entrevista: “Penso em quanta dor e quanto sangue há por trás dos ideais”

Maria Cecilia Colombani, professora de Filosofia na Universidad de Morón, na Argentina, esteve em São Paulo entre os dias 10 e 14 de junho para uma semana de estudos sobre a obra de Hesíodo (Teogonia e Os Trabalhos e os Dias). A atividade foi promovida pela Revista Heródoto, com apoio do Grupo Subalternos e Populares na Antiguidade.Durante sua visita à Universidade de São Paulo, onde apresentou uma palestra sobre as mulheres como grupo subalterno a partir da obra de Hesíodo, a professora falou ao Blog sobre suas pesquisas, a construção do ideal feminino nos textos de autores gregos antigos e as possibilidades de estudarmos, a partir deles, a agência das próprias mulheres. Veja a seguir sua entrevista.


Você poderia falar em linhas gerais sobre seu trabalho mais recente?

Meus trabalhos mais recentes estão sendo, estão se voltando para Hesíodo, mas de uma perspectiva mais filológica. Eu completei meu doutorado sobre Hesíodo, mas apenas com as ferramentas, com as análises, filosóficas. Estou revisitando tanto “Os Trabalhos e os Dias” quanto “Teogonia”, mas agora com as ferramentas filológicas, dedicada ao grego, em ler o texto em grego e voltar a trabalhar com a mesma perspectiva antropológica-filosófica ambos os textos. E estou começando a trabalhar a recepção de Hesíodo na Antiguidade, então estou olhando para Xenofonte, Sólon e Platão para ver como são estas primeiras matrizes do pensamento de Hesíodo.


Como é seu processo de trabalho com esses textos antigos? A partir deles, é possível compreender como se constrói um ideal feminino?

Sim, acredito que sim. Eu parto, em minhas análises, do método arqueológico de Foucault e de uma certa questão do presente em torno do ideal feminino e minha tarefa, minha humilde tarefa, é a de uma escavadora que vai ao mito e, logo, à expressão filosófica para buscar como foi se construindo esse ideal feminino. Então, as primeiras pesquisas tiveram que ver esta construção em Homero e Hesíodo, mas, logo seguidas por outros planos, sobretudo em Aristóteles, vendo como se construiu, como somos tributários daquela construção de um ideal feminino. E então, também, penso em Nietzsche e em quanta dor e quanto sangue há por trás da construção dos ideais.


Apesar desse ideal feminino construído nos textos, é possível analisar a agência das próprias mulheres?

Sim, creio que é possível analisa-lo naqueles textos e contemporaneamente. A dialética do poder sempre tem a ver com uma ação e uma reação, por isso, lendo com cuidado os textos, lendo fontes fantásticas como a tragédia, por exemplo, as tragédias gregas, há a possibilidade de ler movimentos de resistência, exatamente como ocorre com os relatos contemporâneos das mulheres. Se segue sendo forte um certo modelo de construção feminina, há também, felizmente, agenciamentos das mulheres em suas ações de resistência e por isso estamos como estamos.


Entrevista: Nara Oliveira e Pedro Benedetti

Edição de vídeo: Nara Oliveira

Legendas: Jessica Brustolim


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